sábado, 13 de dezembro de 2008

Fuga Ingênua

Bem, esse é o meu quarto conto escrito. Foi posto posto no papel em fins de 2007 e passou pro pc no começo deste ano. É um conto bacana, de que gosto bastante, apesar de simples. Tive como base uma história real que aconteceu comigo e daí fantasiei em cima. Espero que gostem.


Fuga Ingênua

Esta é uma história muito antiga e um tanto triste que me marcou profundamente. Naquele tempo eu era jovem e inexperiente. Hoje – creio eu – já sou mais sensato.

Naquela fatídica manhã foi que tudo aconteceu. Eu ainda morava na casa de meus pais e eles me traíram. Papai disse que ia trabalhar: mentira; devia estar era morrendo de remorso. Foi mamãe quem me levou. Eu era inocente. Acreditei nela. Logo chegamos ao endereço: um edifício baixo de cores alegres nos fundos da igreja. Como um estabelecimento tão pérfido poderia se encontrar nas proximidades da casa de Deus? Na porta, mamãe me dirigiu um olhar afetuoso e disse que tínhamos que entrar. Eu não compreendi, mas obedeci. Era de fato muito obediente.

De mãos dadas com minha genitora adentrei por cerca de três corredores até chegar à sala, à maldita sala. Lá, uma senhora nos esperava. Tinha cabelos brancos e escondia sob a alva tez uma maldade sem fim. Quando atravessei o limiar do cômodo senti que meus dedos não mais tocavam os de minha matriarca. Olhei para trás: a porta estava fechada. Olhei para a frente: uma senhora me sorria com desdém. Minha primeira reação foi tentar abrir a porta, mas a senhora tinha uma força descomunal para mim. Tomou-me pela mão e colocou-me em meio a outras pessoas de situação idêntica à minha. Todos chorávamos – pesarosos.

Então, começou a tortura: frases sem sentido, instrumentos de opressão travestidos de objetos de prazer... Coibiam o relacionamento entre os prisioneiros, dizendo que estávamos brigando... O próprio alimento que nos davam era uma papa entorpecente e a bebida reduzia-se a água.

A porta continuava fechada. Olhava para ela constantemente na esperança de que minha mãe aparecesse e me resgatasse. Tive a impressão de ouvi-la lamentar quando se foi. Preso naquela espécie de hospício, permaneci por horas a fio. Foi então que o destino que me sorriu: a porta se abriu lentamente. Uma outra funcionária do estabelecimento entrava na sala para falar com a que me vigiava. Rezei para que ela fosse descuidada e não trancasse a entrada totalmente. Deus me atendeu. Foi a minha chance.

Pus-me a sair pela fresta deixada tolamente e corri como um louco. Má sorte: as duas empregadas me viram sair e partiram em minha direção. Os outros prisioneiros – atordoados e seriamente vitimados pelos métodos escusos a que foram submetidos – permaneceram onde estavam. Eu, por minha vez, já ganhava o segundo corredor ao descer uma rampa. Das duas perseguidoras, a que me vigiava já desistira: era mais bem mais velha que a outra e minha agilidade não fora tão debilitada pela maldade alheia. A outra, porém, se encontrava em meu encalço.

Como era muito menor que minha inimiga, me livrava com mais facilidade dos obstáculos do caminho. Além do mais, estava com uma tremenda sorte: ao sair do último corredor e alcançar a saída, ela estava aberta. Empolgado, porém, esqueci-me da escada a seguir, que dava para a rua. Tropecei nos degraus e caí.

Os ferimentos físicos foram poucos, mas os da alma eram gigantescos.

Falhei.

Logo, mamãe chegou. E eu fui embora. Todos os dias, entretanto, voltava àquele antro de perdição.

Tinha dois anos e tentara fugir da creche, sem sucesso. Meus sonhos de virar espião da Interpol tinham ido por água a baixo. O lance era virar escritor amador mesmo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não vou comentar como especialista no assunto, mas sim como amiga e admiradora dos teus contos. Achei muito legal! Simples, mas com um suspense, uma espectativa grandérrima p/o final do conto que, claro, tinha que falar de ser espião da Interpol!hehehe!
Conseguiu agora uma visitante frequente do teu blog Pedro!hehehe!Ainda mais se postar o teu conto sobre a garota nômade!;)
bjos